O anúncio é um passo importante na resolução de um longo conflito entre a plataforma e representantes dos grandes publishers, que há quase 20 anos cobram uma participação maior do Google no suporte ao jornalismo profissional.
O novo projeto deve ser lançado até o final do ano - segundo o Vice-Presidente de Jornalismo do Google, Brad Bender - e será um produto novo, diferente dos atuais Google News e Discover.
Os executivos não abrem muitos detalhes do projeto, ainda em desenvolvimento. Segundo Bender, o Google “valoriza o jornalismo de qualidade e tem consciência de sua importância para a sociedade” e o objetivo maior das ações é contribuir para a saúde deste ecossistema.
Os termos serão negociados com cada veículo selecionado, de acordo com a sua qualidade, relevância e autoridade. Somente veículos sérios e reconhecidos pela linha editorial profissional serão elegíveis. O projeto terá abrangência global, mas no primeiro momento o
lançamento será restrito a apenas três países, entre eles o Brasil.
A ideia é permitir que leitores interessados em se aprofundar no estudo de determinado assunto possam estender sua pesquisa, mesmo que não sejam assinantes de veículos especializados.
Caso o conteúdo seja classificado como restrito pelo publisher, o acesso seria financiado pela própria plataforma - direcionando o visitante em sua pesquisa e, quem sabe, em sua decisão de compra de uma assinatura daquele veículo no futuro próximo.
A ascensão das plataformas digitais como o próprio Google, blogs, portais e redes sociais representaram um duro golpe ao modelo de negócio que por décadas manteve grandes órgãos de imprensa e mídia impressa em geral.
A popularização dos notebooks, smartphones e a democratização do acesso à internet reduziram drasticamente as vendas e assinaturas de jornais, periódicos e revistas no mundo inteiro. A digitalização forçada transformou os grandes jornais em portais eletrônicos de jornalismo profissional, mas o estrago estava feito.
Desde então, executivos, intelectuais e políticos têm manifestado preocupação, cobrado uma maior participação do Google no financiamento do jornalismo de qualidade. O modelo de publicidade programática nunca chegou perto de ser suficiente, e mesmo a utilização dos paywalls se mostrou ineficaz na conversão de assinantes e insuficiente na geração de receitas.
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No início da crise provocada pela pandemia, o Google chegou a anunciar a criação de um Fundo de Auxílio Emergencial ao Jornalismo , que beneficiou mais de 5 mil pequenas e médias redações em todo mundo, com auxílios que variam entre R$ 25 mil e R$ 160 mil. Dentre as empresas beneficiadas, 380 são brasileiras.
Agora, diante do quadro de desinformação generalizada proporcionado pela produção e livre disseminação de peças, quadros e memes com notícias falsas, o Google recorre à credibilidade do método jornalístico para garantir a qualidade da informação distribuída em sua plataforma.
A diversidade entre si, segundo diversos critérios, pesou para a escolha dos três primeiros países a conhecerem a novidade: Brasil, Austrália e Alemanha. Além destes, há uma fila de outros países onde as negociações também já se encontram em estágio avançado, como França, México e África do Sul.
No caso brasileiro, o contexto político e a pandemia pesaram na escolha. Segundo Bender, neste momento o mundo observa o Brasil com atenção e certo espanto pela maneira desastrada como as coisas estão se desenrolando.
Para o Vice-Presidente de Jornalismo do Google, a intenção ao escolher o país para o lançamento é:
“(..) uma forma de ajudar a lidar com alguns dos problemas complexos que estão sendo enfrentados no Brasil, como a desinformação. É ajudar a garantir que as pessoas tenham um debate público bem informado. Parte da solução é oferecer às pessoas informação de qualidade e desenvolver ações que apoiem o jornalismo profissional. Isso é algo que eu destacaria como específico para o Brasil. Ajudar a conectar as pessoas às fontes mais confiáveis de informação”.
Pois é. O Google realmente parece saber o que acontece na nossa vida.
O anúncio do Google foi feito em momento oportuno, marcando a posição do Google em meio aos recentes protestos nos Estados Unidos, que tiveram início com o assassinato de George Floyd, mas recentemente deram origem a uma forte campanha para que as marcas deixem de anunciar no Facebook no mês de julho.
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